quarta-feira, 13 de maio de 2009

Simples Relevância

Nos últimos tempos muitas pessoas têm falado sobre essa palavra que, para outras, causa um desconforto um tanto quanto preocupante – relevância. É relevância na sociedade, na saúde e educação públicas, nas atitudes políticas partidárias e não partidárias e, especialmente, relevância para com o evangelho de Cristo. “Mas como? Evangelho Cristão com ‘relevância’? Jamais! Com a Palavra de Deus é ‘sim sim’ ou ‘não não’, pois não há meio termo.” Usando da redundância, muitos, infelizmente, são “extremamente extremistas” nessa posição.
Realmente o evangelho de Cristo é inegociável. Mas essa particular e pessoal associação – “evangelho” e “relevância” – se refere à urgente necessidade de a igreja de Cristo ser relevante para com aqueles que estão à sua volta. E para que isso aconteça, são necessários dois processos. Primeiro, que ela vá de encontro às pessoas sem distinções, levando consigo o mais puro evangelho cristão com sua essência totalmente impecável. E, depois, que nesse “encontro” utilize tudo o que há de bom e lícito na cultura ou nos costumes que envolvem seu ouvinte, a fim de que o evangelho se aproxime deste com muito mais naturalidade sem, contudo, perder sua identidade.
Muitas vezes, os cristãos criam uma marca, uma identificação própria e até mesmo um vocabulário subjetivo que acabam levando-os a uma total irrelevância para com aqueles que os
rodeiam, trazendo empecilhos para que Cristo seja proclamado, e, inconscientemente, formando
para si mesmos guetos, onde tudo é diferente do “mundo”.
É necessário lembrar que Cristo durante o tempo que esteve entre os homens foi extremamente relevante. Um exemplo simples no qual se percebe nitidamente essa realidade é o código que Judas utiliza para entregar Jesus aos guardas romanos conforme registrado por alguns dos evangelistas. Pelo fato de Jesus não usar uma roupa “diferente” da daqueles que estavam ali com ele, não falar um dialeto “diferente”, e não andar exclusivamente com um determinado grupo de “crentes” não teria como ele ser diferenciado pelos guardas, a fim de que estes o prendessem. Então, Judas cria um código ou um sinal para apontar o Cristo. “E logo, aproximando-se de Jesus, lhe disse: Salve, Mestre! E o beijou.” Mateus 26. 49. Cristo, sem jamais perder sua essência e caráter, ao se misturar com o povo, era “confundido” como um deles. Ele era consciente de que o “encontro missionário acontece entre a igreja, o evangelho e o mundo” e não deixando este “mundo” de lado como muitos acreditam.
Dietrich Bonhoeffer diz que “a igreja só é igreja quando o é para os de fora.” Algumas igrejas no Brasil hoje têm procurado ser assim a cada dia. Essas igrejas vão das mais diversas maneiras contextualizadas e relevantes para o meio das pessoas sem esperar que elas venham para o templo ou à própria igreja. Algumas procuram suprir um pouco das necessidades básicas de uma população sofrida (isso é uma das vertentes do “aproveitar o que a “cultura” oferece ou, neste caso, que ‘não oferece’) e levar o evangelho de Cristo puro e sem a perda de sua essência. Outras igrejas não usam da filantropia, pois visam outro grupo. Por isso, optam por trabalhos culturais de diversos tipos, a fim de atrair pessoas para o evangelho. Porém, é necessário o alerta de que as comunidades cristãs não são simplesmente comunidades “libertadoras” nem um grupo onde o simples “proclamar” exerce função única. Cristo é o libertador, o que traz as boas-novas, e Aquele que usa esses tipos de trabalhos para levá-lo, assim como ele deseja, às pessoas.
No entanto, não há nada mais relevante, impactante, transformador e frutífero para a expansão real do evangelho de Cristo do que quando esta acontece por meio dos puros e simples relacionamentos interpessoais. Que cada cristão, individualmente, possa saber discernir, mediante o Espírito Santo, que “missão tem a ver com atravessar fronteiras étnicas, culturais, geográficas e sociais”, e até mesmo que o “atravessar fronteiras” implica em atravessar a rua e, relevantemente, falar de Cristo ao seu vizinho. E que possamos chegar ao ponto de dizer, assim como John Knox, “Ó Deus, dá-me ‘minha pátria’, ou morro”.

Renato Ribeiro

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